Dom Alberto Taveira Arcebispo Metropolitano de Belém
O Servo de Deus
Papa Paulo VI, de saudosa memória, ofereceu à Igreja, no ano de 1975, a
Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, a respeito da Evangelização no
mundo contemporâneo. Quando muitos se perguntavam, por influência de
correntes de pensamento já dominantes naquele período, a respeito do
lugar da religião e da Igreja, esta se redescobriu na missão
evangelizadora. A palavra do Papa fez os cristãos deixarem de olhar para
o espelho, mirando seus próprios defeitos ou qualidades, para se
voltarem para frente e para o alto, descobrindo que cada geração tem a
mesma responsabilidade de anunciar o nome de Jesus Cristo.
Ainda
no Antigo Testamento, um profeta chamado Jonas (cf. Jn 1,1-3,10) recebeu
de Deus a difícil tarefa de anunciar a conversão. Sua primeira reação
foi a fuga, pois lhe parecia muito complicado enfrentar Nínive que “era
uma cidade fabulosamente grande, do tamanho de uma caminhada de três
dias” (Jn 3,3). Depois de um naufrágio e a aventura “no ventre do
peixe”, aceita pregar ao povo de Nínive. Se Deus queria que anunciasse a
conversão, o profeta anuncia destruição. E o povo entende conversão! O
resultado foi uma grande tristeza para o profeta: “Jonas ficou, então,
muito amargurado e irritado. E assim orou ao Senhor: “Ah, Senhor! Não
era isso mesmo o que eu dizia quando estava na minha terra? Foi por isso
que eu corri, tentando fugir para Társis, pois eu sabia que és um Deus
bondoso demais, sentimental, lerdo para ficar com raiva, de muita
misericórdia e tolerante com a injustiça” (Jn 4,1-2).
Até hoje a
intolerância encontra guarida em muitos corações. Correm pelo mundo
pressões sobre a Igreja, reações negativas às iniciativas de diálogo e
partilha com quem pensa diferente, como se não tivesse acontecido a
revelação de Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado. Deus teve muita
paciência com o povo antigo, cujos ideais e métodos muitas vezes
incluíram levar à perdição os inimigos. O Senhor Jesus convidou a dar a
outra face, quando se recebe um golpe, andar dois mil passos a mais com
alguém e dar a capa a quem tirar o manto. A experiência vivida por Jonas
é anunciadora de métodos novos e verdadeiramente revolucionários.
Trata-se da revolução do Evangelho.
Depois da prisão
de João Batista, Jesus iniciou a pregação do Evangelho. Seu convite é
provocante: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.
Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,14-20). Converter-se é mudar
de mentalidade, enxergar a realidade a partir de um ângulo diferente. Os
primeiros discípulos chamados por Jesus e os de todos os tempos, nos
quais estamos contemplados, deverão seguir Jesus, aprender com seus
gestos, acolher junto com ele os fracos e pecadores, para chegarem a
reconhecê-lo como Filho de Deus.
Os desafios à
Evangelização em nosso tempo são muito grandes, mas o Espírito Santo,
como sempre fez, conduz a Igreja de Cristo, servidora do Evangelho,
anunciadora da Salvação. A Igreja Católica no Brasil identificou algumas
exigências para exercer a tarefa evangelizadora (cf. Diretrizes Gerais
da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 134-15). O serviço, que se
concretiza especialmente na dimensão sócio-transformadora, com toda a
presença histórica da Igreja, na atenção aos pobres e na promoção
humana. Valem todos os esforços dos cristãos e das instituições ligadas à
Igreja para concretizar a caridade. Isto é evangelização. Outro passo é
o diálogo, que se concretiza na dimensão ecumênica e do diálogo
religioso, assim como no relacionamento respeitoso e construtivo com
todas as forças da sociedade civil. E no coração da missão
evangelizadora se encontra a exigência do anúncio explícito do nome de
Jesus Cristo, que se concretiza na dimensão missionária, através da qual
os cristãos hão de chegar até os confins da terra. É a razão de ser da
Igreja. Enfim, o testemunho da comunhão, que se concretiza na dimensão
comunitário-participativa, a vida das comunidades de Igreja, o
relacionamento entre as pessoas de fé, realizando a palavra de Jesus:
“Que todos sejam um, para que o mundo creia” (Jo 17,21).
Por onde começar?
Segundo as situações e ambientes, a Evangelização pode se iniciar com o
diálogo ou o serviço silencioso da caridade. Outras pessoas sentir-se-ão
atraídas por uma comunidade viva, na qual todos se amam. A pregação
explícita do Evangelho pode ser para muitos o primeiro passo. Vale a
pena perguntar-nos sobre o caminho que o Espírito Santo usou conosco!
A Igreja não tem
medo dos desafios, porque sabe que é acompanhada pelo Espírito Santo,
penhor das promessas de Jesus. Para continuar sua peregrinação
evangelizadora, pede ao Pai do Céu: “Dirigi a nossa vida segundo o vosso
amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas
obras”. A melhor delas é que a luz do Evangelho chegue a todos os homens
e mulheres de nosso tempo! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário