Padre Agostinho Cruz
afs.cruz@hotmail.com
Bacharelado em Teologia pela Faculdade Dehoniana (SP)
Pároco de São João Batista e Nossa Senhora das Graças (Icoaraci)
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Bacharelado em Teologia pela Faculdade Dehoniana (SP)
Pároco de São João Batista e Nossa Senhora das Graças (Icoaraci)
Não me farei de rogado ao escrever estas poucas linhas em detrimento de um homem, ator e padre. Falo de Cláudio Barradas. Eu o conheço pouquíssimo, apenas de um tempo em que fiz parte de seu pastoreio, como seu paroquiano em Santa Izabel do Pará. É um homem de grandes facetas. Seja pela eloquência no falar, seja pelo sacerdócio, tanto quanto pela arte de encenar a vida; um dom sem igual, carregado de ritos e disciplina.
Na segunda-feira da oitava do Natal do Senhor, recebi um telefonema, no qual fui convidado para apreciar ao espetáculo Vida e morte Severina, obra de João Cabral de Melo Neto, dirigida e interpretada pelo octogenário Padre Cláudio Barradas, e com brilhante participação coadjuvante de seus paroquianos. E que encenação!
Dizem que a vida é um grande palco onde se desenrola o drama da existência humana. É verdade! Na dança e na orquestra da vida o humano é o ponto central na luminosidade deste espetáculo. Isso bem nos ensina esse sacerdote que encarna papeis tão vibrantes com sua arte cênica.
Já tive oportunidade de vê-lo em cena, em outras oportunidades; mas parece que o tempo não o escraviza, nem o relega ao fator da idade. Bem verdade, é a arte que o faz viver, porque ele vive com arte. O que mais me encanta neste ator-sacerdote é sua capacidade de fazer dos anônimos paroquianos, grandes interpretes de um texto tão rico e tão denso de emoção e força vital, como este de João Cabral de Melo Neto.
É dessa maneira que aprendo como a vida pode ser sempre recriada, redirecionada, projeta para além dos limites condicionais do espaço e do tempo. Cada ser humano, arte do Criador, carrega em si um dom de capacidade, de se fazer presença no mundo, de revelar ao outro o outro que existe dentro de cada um. Isso mesmo, a vida humana é uma saga a ser vivida a cada dia, como o retirante Severino, buscando melhores condições de vida, descortinando em meio a morte que sôfrega por arrebata-lo ronda-lhe na sua sina. E quem de nós, não se vê nessa situação? Quem não deseja fugir da sina da morte e de seus rodeios? Todo ser humano.
Todos nós somos "Severinos" nesta vida; estamos em busca de respostas; queremos o que o outro sacie nossa sede com informações e formações; queremos que o outro nos dê a solução. Bem lembrado nesta encenação é o momento em que o "mestre Carpina", diante do nascimento do filho, procura retomar o rumo da prosa e diz a nós "Severinos" que não sabe a resposta da pergunta que foi feita, mas, melhor do que palavras, o nascimento de uma criança podia ser uma resposta: "A vida a pena ser vivida"!
Este drama da existência humana, tecida no sertão nordestino, é o mesmo que carregamos dentro de nosso coração. E todo drama é carregado de emoções, de ansiedades, e porque não dizer de frustrações.
As lições que o teatro pode nos dar são muitas. A começar pela disciplina, a postura, a desenvoltura, o sentido de espaço e tempo, a relação com o outro, o interpretar a vida e deixar-se interpretar pelo outro, e tantas mais. Destarte, cada um de nós pudesse viver a teatralidade na cotidianidade de nossa efêmera existência. Saberíamos melhor como lidar com as adversas situações, saberíamos viver, mesmo que tivéssemos a morte diante de nossos olhos; conseguiríamos alimentar nossos sonhos, mesma na correnteza contrário dos contrários, dos versos e reversos.
Padre Cláudio Barradas com sua carga de dramaticidade e leveza teatral vive o que nós, muita vezes queríamos viver, fantasiar e ensaiar, mas que esbarramos em nossos bloqueios emocionais. Deveríamos aprender com este sacerdote-ator ou ator-sacerdote, a tornamo-nos mais joviais a cada nova cena que a vida faz surgir no palco, quando as cortinas se abrem e a penumbra sede lugar a luminosidade do artista que existe em nós.
No teatro da vida, a vida em teatro, é a nossa existência cênica e a nossa encenação de querer viver melhor a cada dia. Portanto, não nos prendamos a sermos meros espectadores da vida, sejamos audaciosos e ansiosos por querer viver o teatro da vida, uma vez que ela se descortina diante dos nossos olhos deste o nosso nascer, e as cortinas se cerrarão quando cerrarem nossos olhos.
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