domingo, 4 de março de 2012

Homilia missa de Quarta-feira de Cinzas

Homilia missa de Quarta-feira de Cinzas
Caríssimos irmãos e irmãs presentes em nossa Sé Catedral e todos os que de suas casas nos acompanham pelos meios de comunicação da nossa Arquidiocese, através da Fundação Nazaré de Comunicação.
 Somos embaixadores, em nome de Jesus, convidando todos os homens e mulheres a reconciliação. É a palavra do Apóstolo São Paulo, na segunda leitura que nós ouvimos. Na primeira leitura, o profeta Joel, em nome de Deus, fazia uma convocação de uma assembleia; chamava a penitência, a conversão. E Jesus, no Evangelho, diante da praticam religiosa corrente em seu tempo, propõem uma purificação da mesma prática; um jeito novo de viver a oração, a esmola e o jejum; propõem uma forma nova das pessoas viverem.
 Mas diante de tantos convites, eu quero, com você, fazer uma pergunta: eu preciso converter-me? A palavra conversão não é para aquelas pessoas que eventualmente estiverem afastadas: eu não faço parte da Igreja, eu não sou bispo, padre ou diácono, eu não sou católico desde sempre. Por que falar em conversão?
 Primeiro motivo: cada um de nós conhece a sua própria história. E penso que todos os irmãos e as irmãs que se encontram aqui presentes, ou que nos acompanham de casa, experimentam também em sua própria vida, o que o Apóstolo São Paulo falou a seu próprio respeito: “não consigo fazer o bem que quero, e faço o mal que eu não quero”. O primeiro motivo é quando eu olho no espelho da Palavra de Deus e percebo que efetivamente nem sempre consigo fazer o bem que desejo.
 Caríssimos irmãos e irmãs, o mistério do mal nos desafia. E não adianta pretender enganar-se para dizer eu não preciso, eu não seu, eu não tenho necessidade de conversão. Nós tocamos em nós mesmo este mistério do mal. Eu quero perguntar junto com você. Quando você vê que praticou o mal. Quando viu que pecou. Por acaso o pecado tem lógica? Quando a gente descobre que praticou o mal. Quando você descobre que esta maldade tomou conta do seu coração ou do meu. E você diz a si mesmo: eu sabia o que era o certo e fiz o errado. Dá vontade de dá uma cabeçada, né?
 Este é o primeiro motivo de conversão. Basta olhar, não em qualquer espelho, mas para o espelho da Palavra de Deus e tomar consciência de que nós precisamos de conversão. Eu preciso de conversão.
 Há outros motivos que nos provocam. Nesses dias, eu tenho refletido muito; hoje mesmo conversávamos Dom Teodoro, Dom Vicente Zico e eu, um fenômeno gravíssimo que se espalha em nosso ambiente: a absoluta desvalorização da vida.
 Queridos irmãos e irmãs, eu tenho certo receio da gente abrir as páginas policiais dos jornais e não se assustar com elas. Absoluta desvalorização, depreciação da vida. Como se desvaloriza a vida em nosso ambiente. Como é considerada como um lixo. Todo o tipo de morte, crimes, assassinatos bárbaros que são cometidos a cada dia e parece que gente faz “ouvido de mercador”, porque essas notícias entram por um ouvido e saem por outro, pois ficamos absurdamente acostumados com a maldade.
Caríssimos irmãos e irmãos, esta sociedade, ou estas pessoas que a constituem, vocês e eu, efetivamente precisamos de conversão. Não farei aqui uma lista de todas das mazelas sociais que nos cercam. Vocês as conhecem. Mas se eu apenas acenar a constatação que a Campanha da Fraternidade faz. Por que fazer uma campanha dizendo: “A saúde se difunda sobre a terra”, baseado no Livro de Eclesiástico, capítulo 38, versículo 8. Hoje me perguntaram por que a Igreja escolheu este tema. Não se trata simplesmente de refletir sobre a questão do doente, do enfermo; já tivemos outra Campanha da Fraternidade sobre isso. Mas neste ano, queremos dar nossa contribuição para que melhore a saúde pública, o atendi mento as pessoas que são enfermas, as que precisam de tratamento, medicação. Temos, teoricamente, um Sistema Único de Saúde fabuloso, mas sabemos que ele ainda não atingiu a todas as pessoas e que existe uma multidão imensa de pessoas que têm necessidades graves. Reconhecemos sim os esforços feitos pelas autoridades e a igreja que dizer: podemos ajudar? Podemos dar nossa contribuição para refletir, para motivas, para fazer nossa parte?
 E assim poderíamos lembrar tantas e tantas situações em nosso tempo. Para dizer, como acenava no princípio: eu, você, a sociedade, o mundo, as cidades, o Estado, o país: precisamos de conversão. Falar em conversão não é falar em alguma coisa já passada. É extremamente atual dizer: estejamos dispostos a uma mudança de vida. A Igreja sempre usou três instrumentos que servem para a pessoa mudar de vida. A primeira palavra é conversão. Mas a Igreja sempre usou instrumentos que vem a sagrada escritura e da prática religiosa, como também como em outras religiões. Oração: eu sozinho não sou capaz de me converter. Volta o Apóstolo São Paulo que diz: foi me dado um espinho da carne e eu pedi que o Senhor que me livrasse. E Ele disse: basta-te a minha graça porque a minha força se manifesta na fraqueza. Precisamos pedir o perdão a Deus. A oração, os sacramentos, especialmente o sacramento da Penitência. Que pena quando as pessoas não se confessam mais. Já disse, em outras ocasiões, que as pessoas não se confessam, mas acabam desabafando, às vezes com um profissional da área de psicologia, e existem muitos competentes; ou às vezes com uma pessoa amiga, porém lhes falta alguém que possa dizer: “eu lhes absorvo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

 Isso acontece com o sacramento. Quer mudar? Quer ser melhor? Busque mais o sacramento da Penitência. A reconciliação. Hoje nosso Senhor falava das pessoas que rezavam para aparecer. Não precisamos rezar para mostrar para os outros, mas precisamos, sim, da oração, dos sacramentos e dos gestos que expressam essa mudança.

 Outra manifestação religiosa é a caridade, é a fraternidade. Em qualquer religião, muito mais no cristianismo, quem diz seu sim bonito a Deus começa a amar o seu próximo. É conseqüência imediata de nossa sua fé cristã desejar amar e servir o próximo. Exercício de caridade, de fraternidade durante o tempo da Quaresma. Relacionamento com Deus: oração. Relacionamento com o próximo: caridade. Relacionamento consigo mesmo: jejum, abstinência, mortificação.
Muitas vezes nós cristãos perdemos o sentido do jejum e tem tanta gente que o redescobre no seu valor de educação dos próprios sentidos, de equilíbrio da própria vontade, da saúde. Meus Deus a Igreja descobriu isso a tanto tempo: propondo que as pessoas não comam a carne durante a Quaresma. Hoje ter dois dias de abstinência de carne, hoje e na Sexta-feira Santa, algumas pessoas se escandalizam, como se a igreja tivesse colocado um peso imenso. E ao lado da gente há pessoas que estão fazendo por serem vegetarianas ou por outros motivos e não morrem. E se equilibram e se sentem bem; e nós temos os motivos religiosos para fazê-lo. Mas a igreja deixa também muito a nossa liberdade, para que saibamos escolher e buscar aquilo que contribui para a educação da nossa vontade. Gestos de religião: o jejum, a oração e a caridade. Daqui a pouco nós faremos um gesto. O gesto das cinzas em nossa cabeça. Ninguém venha receber as cinzas por causa do carnaval. Só venha receber as cinzas se você quer fazer Páscoa, se quer dizer com seu gesto, porque ela não muda nada em você se o seu coração não estiver pronto a mudar. Só venha receber as cinzas se dentro do seu coração estiver uma disposição: “eu quero fazer uma estrada de conversão. Por isso, é que eu deixo o sacerdote, o bispo, o diácono, passar as cinzas em minha cabeça ou na minha testa para dizer: sem Deus eu viro pó da terra”.
Ao receber-mos as cinzas, quem vai impô-la sobre nossa cabeça vai dizer: “convertei-vos e crede no Evangelho” ou então “lembra-te que és pó e ai pó vais voltar”. É um gesto piedoso, expressivo e bonito, mas precisa primeiro que o coração esteja bem disposto, bem preparado. É o convite que faço a todos ao participar-mos ágora deste gesto de bênção e imposição das cinzas sobre nossas cabeças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário